Quando Deus criou o homem, no princípio o
formou com o pó, e em seguida soprou «o fôlego devida» em seu nariz. Assim que
o fôlego de vida, que se converteu no espírito do homem, entrou em contato com
o corpo do homem, teve origem a alma. Daí que a alma é a combinação do corpo e
do espírito do homem. Por isso a Bíblia chama o homem «uma alma vivente». O
fôlego de vida se converteu no espírito do homem, quer dizer, o princípio de
vida nele. O Senhor Jesus nos diz que «é o espírito o que dá vida» (Jo. 6:63).
Este fôlego de vida vem do Senhor da Criação. Entretanto, não devemos confundir
o espírito do homem com o Espírito Santo de Deus. Este difere de nosso espírito
humano. Romanos 8:16 explica sua diferença ao afirmar que «O Espírito mesmo
testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus». O original da palavra
«vida» em «fôlego de vida» é chay e
está no plural. Isto pode referir-se ao fato de que o sopro realizado por Deus produziu
uma vida dupla, anímica e espiritual. Quando o fôlego de Deus entrou no corpo
do homem, se converteu no espírito do homem, mas quando o espírito reagiu com o
corpo, se criou a alma. Isto explica a origem de nossas vidas espiritual e
anímica. Devemos reconhecer, entretanto, que esse espírito não é a própria vida
de Deus, porque «O Espírito de Deus me fez, e o sopro do Todo-Poderoso me dá
vida» (Jó 33:4).
Não é a entrada no homem da vida incriada de
Deus, como tampouco é a vida de Deus que
recebemos na regeneração. O que recebemos no
novo nascimento é a própria vida de Deus
simbolizada pela árvore da vida. Mas nosso
espírito humano, embora exista permanentemente, está vazio de «vida eterna». «Formou
o homem do pó da terra» se refere ao corpo do homem; «soprou em seu nariz o
fôlego de vida» se refere ao espírito do homem ao vir de Deus; e «o homem se
tornou uma alma vivente» se refere à alma do homem quando o corpo foi avivado
pelo espírito e convertido em um homem vivo e consciente de si mesmo. Um homem
completo é uma trindade: composto de espírito, alma e corpo. Segundo Gênesis
2:7, o homem foi feito de só dois elementos independentes, o corporal e o
espiritual. Mas quando Deus pôs o espírito dentro da armação de terra se criou
a alma. O espírito do homem, ao entrar em contato com o corpo morto, produziu a
alma. O corpo separado do espírito estava morto, mas com o espírito, o homem
recebeu a vida. O órgão assim vivificado foi chamado alma.
«O homem se converteu em uma alma vivente»
expressa, não meramente o fato de que a combinação de espírito e corpo produziu
a alma, também sugere que o espírito e o corpo foram
totalmente fundidos nesta alma. Em outras
palavras, a alma e o corpo se combinaram com o espírito, e o espírito e o corpo
se fundiram na alma.
«Adão, antes da queda, não sabia nada desta
incessante luta do espírito e da carne, que são já algo cotidiano para nós.
Havia uma perfeita mistura de suas três naturezas em uma, e a alma, como meio
unificador, converteu-se na causa de sua individualidade, de sua existência
como ser distinto» (Earth's Earliest Age, do Pember).
O homem foi desenhado como alma vivente porque
era ali onde o espírito e o corpo se encontraram e é através dela que se
conhece sua individualidade.
Possivelmente poderíamos usar uma ilustração
imperfeita: joguem umas gotas de tintura em um copo de água. O tintura e a água
se combinarão produzindo uma terceira substância chamada tinta.
De igual maneira os dois elementos
independentes do espírito e o corpo se combinam para converterse em uma alma
humana. (A analogia falha em que a alma produzida pela combinação do espírito e
o corpo se converte em um elemento independente e indissolúvel como o são o
espírito e o corpo.) 10 Deus considerou a alma
humana como algo único. Como os anjos foram criados como espíritos, o homem foi
criado de maneira predominante como alma vivente. O homem não só tinha um corpo,
um corpo com o fôlego de vida; também se converteu em uma alma vivente. Por
isso veremos mais adiante na Bíblia, que Deus freqüentemente se refere aos
homens como «almas». Por que? Porque o que o homem é depende de como é sua
alma. Sua alma o representa e expressa sua individualidade. É o órgão da livre
vontade do homem, o órgão no qual o espírito e o corpo estão totalmente
fundidos. Se a alma do homem quer obedecer a Deus, permitirá que o espírito
governe o homem conforme o ordenado por Deus. A alma, se o decidir, também pode
reprimir o espírito e tomar algum prazer como senhor do homem.
Pode-se ilustrar em parte esta trindade de
espírito, alma e corpo com uma lâmpada elétrica.
Dentro da lâmpada, que pode representar o
conjunto do homem, há eletricidade, luz e arame.
O espírito é como a eletricidade, a alma é a
luz e o corpo é o arame. A eletricidade é a causa da luz, enquanto que a luz é
o efeito da eletricidade. O arame é a substância material para transportar a eletricidade,
para manifestar a luz. A combinação do espírito e do corpo produz a alma, que é
única do homem. De maneira que a eletricidade, transportada pelo arame, é
expressa na luz, assim também o espírito atua sobre a alma, e a alma, por sua
vez, se expressa por meio do corpo.
Entretanto, devemos lembrar bem que enquanto a
alma é o ponto de encontro dos elementos de nosso ser nesta vida presente, o
espírito será o poder dominante em nosso estado de ressurreição. Porque a
Bíblia nos diz: «semeia-se corpo natural, ressuscita corpo espiritual. Há um
corpo natural, e há um corpo espiritual» (1 Co. 15:44). Entretanto, aqui há um
ponto vital: nós que fomos unidos ao Senhor ressuscitado podemos conseguir
inclusive agora que nosso espírito governe todo nosso ser. Não estamos unidos
ao primeiro Adão, que foi feito uma alma vivente, mas sim ao último Adão, que é
um espírito vivificador («ou que dá vida») (v. 45).